terça-feira, 19 de junho de 2007

Não é só casa e comida, que faz a mulher feliz!

Alguns podem até achar que o "dramalhão" musical do Brasil pode ser pra hoje, algo cansativo. Dramalhão? Isso mesmo! É a música dos corações dilacerados, dos homens e principalmente mulheres abandonados ou desiludidos com o amor e a vida. Aquele som (geralmente em samba canção e bolero), que se ouvia constantemente e bem baixinho no rádio de pilhas no quarto das empregadas, ou nas radiólas das donas de casa do subúrbio. Música que marca um período cultural do país, em que a mulher ocupava uma posição de total subserviência e necessidade da figura do marido para ser considerada como uma "mulher decente", da "mulher feliz". Muitas canções e interpretações marcaram essa fase da música brasileira. Mas entre as interpretes, resolvi destacar a importância da Núbia Lafaiette [na foto pintura], que nos anos 50 cantava as dores, e nos anos 70 passou a cantar a mulher não queria mais ser escrava dos casamentos infelizes, revelando a então situação da mulher naquele período, que era de emancipação. Ela, que aos 70 anos resolveu a cantar lá no alto. Não no morro, sim junto com as demais estrelas do céu. Nascida na cidade de Açú no Rio grande do Norte, Idenilde da Costa Araújo, aos 12 anos de idade já fazia do cabo da vassoura um microfone para cantar as músicas de Vicente Celestino e Dalva de Oliveira. A potiguar chegou no Rio de janeiro aos 3 anos de idade e começou sua carreira no fim dos anos 50 com o nome artístico de Nilde Araújo, cantou em programas de calouros, foi crooner da boate Cave no Rio de Janeiro.

Chegou a gravar um disco ainda como Nilde Araújo o seu primeiro nome artístico, mas só assumiu o nome definitivo de Núbia Lafayette em 1960 por sugestão do compositor Adelino Moreira, que a apresentou com o apoio de Nelson Gonçalves a gravadora RCA e encontrou em Núbia a interprete ideal para suas canções inolvidáveis. Ainda em 1960, Núbia gravou seu primeiro disco de carreira com a música "Devolvi" de Adelino Moreira, que logo passou a tocar nas rádios de todo país e exaustivamente nas rádios de todo o nordeste o que a projetou como uma cantora romântica e popular.

N
elson Gonçalves teve uma grande importância na carreira da Núbia. Ele foi sua fonte de inspiração musical masculina e um grande professor ensinando-a como se comportar no palco. Núbia pela grande afinidade com o cantor foi apontada por muitos de seus fãs como um "Nelson Gonçalves de Saias", regravou muitos de seus sucessos como: Argumento (Adelino Moreira), À Volta do Boêmio (Adelino Moreira) e Fica Comigo esta Noite (Nelson Gonçalves / Adelino Moreira).

"Devolvi" o seu primeiro sucesso não foi o único, logo depois vieram cair na boca do povo músicas como o bolero "Seria tão Diferente", "Prece à lua", "Solidão", "Preciso chorar", "Primazia", "Ouvi dizer"(todas de Adelino Moreira) e "Mais uma lição"( Nonô Basílio). Depois, já pelos anos 70 e pela gravadora CBS veio uma segunda fase de sucessos, Núbia volta para as paradas com "Casa e Comida" música de Rossini Pinto que foi faixa título de um LP gravado em 1972, a música virou uma espécie de hino nacional das mulheres mal casadas e desprezadas pelo seu maridos infiéis, quase todas sabiam de cor o refrão que dizia; "Não é só casa e comida que faz a mulher feliz". Neste mesmo LP, a música "Aliança com filete de prata" (Gloria Silva) também passou a fazer parte definitivamente do seu repertório, como também as músicas que lançou anos depois a exemplo de "Mata-me" "Depressa"(Rossini Pinto), "Quem eu quero não me quer"(Raul Sampaio/ Benil Santos), "Esta noite eu queria que o mundo acabasse" (Silvio Lima)e as recordistas de pedidos suplicantes nos eufóricos shows de Núbia Lafayette: "Lama"(Aylce Chaves /Paulo Marques) e "Fracasso"(Mário Lago) músicas que ficaram celebres em sua voz.

Apesar dos modismos, Núbia sempre se manteve fiel ao romantismo das mágoas, da traição do desconsolo e da fossa que teve em Adelino Moreira seu grande profeta, mais ainda assim gravou também outro dos grandes especialista da dor de cotovelo como Lupcínio Rodrigues, Herivelto Martins, Raul Sampaio, Jair Amorim, Evaldo Goveia, Othon Russo entre outros.

Um dos seus últimos trabalhos foi gravado em Recife, lançado pela Polydisc na série 20 Supersucessos, aonde foram resgatados os grandes sucessos da cantora desde os mais conhecidos como: Que será, Ave Maria no Morro, Segredo e tudo Acabado, como também músicas que já estavam meio esquecidas a exemplo de "A Bahia te espera". E por falar em Recife, a cidade sempre esteve de portas abertas pra Núbia. No festival da seresta que acontece há alguns anos no Marco Zero da capital pernambucana, sua presença era sempre confirmada. Sentindo a brisa do mar, você assistia apresentações deste ícone da música ultra-romântica, da "dor-de-cotovelo " sem maldade, em sua expressão mais pura e mais sofisticada. Confirmando a cada clássico do seu repertório e que o verdadeiro romantismo jamais será brega.

Pra conhecer ou relembrar...
Disco: Núbia Lafayette 20 Super Sucessos
Ouça na vitrola



Um comentário:

Família Oliveira Pinto disse...

Cuidado com o texto sobre Núbia! No seu ultimo cd lançado com ela em vida, Núbia nao canta sucessos seus e sim homenageia sua maior influencidora como cantora: Dalva de Oliveira. Além do mais este nao é seu ultimo lançamento.