1-Quatro loucos num samba2.-Liberdade demais
3-Teléco-téco
4-Malandro bamba
5-Cara feia
6-Com fome não
7-Irene
8-Minha Marilú
9-Meu bem
10-Chóra, coração
11-P’ra brincar de namorar
12-Receita de mulher
Para conhecer ou relembrar...
1-Quatro loucos num samba
Segunda - feira, dia oficial da volta a algumas atividades rotineiras. Acordei cedo, segui todo o ritual de higiene matinal, em seguida fui pro quintal tirar da corda as roupas na Dona Aracy. Tamanco nos pés, ladeira a baixo com a trouxa na cabeça, tendinha do Seu Severino, criançada brincando com bolinha de gude, empinando pipa, pessoal saindo de casa a caminho do trabalho, e claro, malandro sempre corujando o movimento. Já no asfalto eu encontro com Belé. Ele é um crioulo metido a galã de rádio novela, que vive a fazer elogios dos meus atributos e de qualquer nêga que passa perto dele em qualquer lugar. Pode ser no samba, pode ser na rua, no beco, ladeira, pode até ser no bonde. Pra ele qualquer hora é hora de versar acompanhado pelo ritmo que surgia de um latão de manteiga. Acho que ele é a figura mais querida do morro, mais um vivente do mundo dos bambas, biritas, vadiagem e cabrochas. O Severino, dono da tendinha vivia a incentivar o talento do Belé, afirmando que seus sambas eram coisa fina, que não poderiam ficar confinados. Tinham que ganhar o asfalto!
pra algum cantor do asfalto. Num desses dias a caminho do trabalho o crioulo versa pra mim com a sua lata na mão. Mas não era um verso alegre e assanhado como de costume, era um lamento. Senti que ele queria conversar, que gostaria de receber atenção de verdade. Não era dengo de neguinho esperto, ele naquele momento não queria a mesma e única atenção só recebida na tendinha, no butéco quando neguinho já alto de bebida, mandava ele versar em troca de umas e outras, um prato de picadinho e quando muito uns trocados. Larguei a trouxa no chão, e bem pertinho dele ouvi seu longo e triste desabafo: "Não dá pé Pretinha! Os bacana sobe aqui, vem com um papo de tapear neném pra comprar meu samba por um trocado qualquer. É tão pouco que o valor que me oferecem não paga nem o lenço branco que eles enxugam o suor do rosto. Todo mundo me chama de burro, por não vender meus sambas. Que não adianta serem bons se não dão dinheiro. Eles podem até me chamar de otário, mas pelo menos eu não fico como o resto da turma por aí e por aqui vende samba mermo sem pena, mas depois fica chorando no copo da branquinha por que não saiu seu nome no disco, não falam dele no rádio. Se for pra ser assim eu prefiro ficar por aqui versando pra você esperando uma chance de mexer no teu chamego. Mas francamente Binidita, eu quero que a minha gente saiba que fui eu que fez o samba que toca no rádio. Quero que sintam orgulho de mim, que sintam orgulho deles mesmos. Isso não é orgulho besta, isso é sentimento. Um negócio que é meu e não vendo por qualquer cem contos de réis".
Inventadas para acalmar os corações e anestesiar as mentes dos soldados estadunidenses durante a segunda grande e patética guerra mundial, as Pin Ups surgiram com seus belos sorrisos em poses provocantes, fazendo cara de inocente nas folhinhas de calendário e nas revistas masculinas. Rainhas na arte de exibir as pernocas, foram as pioneiras na profissão "atriz-modelo-dançarina". Representavam o perfil (branco) de beleza dos anos 40 e 50, caracterizado pelas formas sinuosas, pele clara, cabelos lisos e bem penteados, carmim na boca, rouge nas maçãs do rosto, unhas pintadas e um certo ar de boa menina de família um pouco travessa. As "garotas para pendurar" foram além das fotografias em calendários e revistas masculinas da época. Chegaram a participar de muitos filmes em que a juventude californiana torrava sua pele na praia ao som de Baech Boys, muito surfing USA, carros conversíveis, vespas, maiôs e biquinís de bolinha. Como tudo por aquelas bandas pode ser convertido em dinheiro, as Pin Ups se tornaram produto tipo exportação. Assim, países como a Itália e a França (aliados dos EUA na guerra) passaram a ter suas divas voluptuosas nas capas de revistas, calendários e no cinema. Como não poderia deixar de ser, nós, melhor dizendo, eles os homens seguiram o bonde dos acontecimentos e adaptaram aquele estereótipo feminino aos padrões Latino- Americanos e a meu ver, transformaram a figura das Pin ups na das Vedetes. Um dos arquitetos que fizeram essa adaptação foi o Staninslaw Ponte Preta, que com suas Certinhas (As Certinhas do Lalau) auxiliou na impalantação da profissão "atriz-modelo-dançarina" nas terras verde-amarelas.
Sérgio Porto, por ele mesmo, "Auto-retrato do artista quando não tão jovem"
"ATIVIDADE PROFISSIONAL: Jornalista, radialista, televisista (o termo ainda não existe, mas a atividade dizem que sim), teatrólogo ora em recesso, humorista, publicista e bancário.
OUTRAS ATIVIDADES: Marido, pescador, colecionador de discos (só samba do bom e jazz tocado por negro, além de clássicos), ex-atleta, hoje cardíaco. Mania de limpar coisas tais como livros, discos, objetos de metal e cachimbos.
PRINCIPAIS MOTIVAÇÕES: Mulher.
QUALIDADES PARADOXAIS: Boêmio que adora ficar em casa, irreverente que revê o que escreve, humorista a sério.
PONTOS VULNERÁVEIS: Completa incapacidade para se deixar arrebatar por política. Jamais teve opinião formada sobre qualquer figurão da vida pública, quer nacional, quer estrangeira.
ÓDIOS INCONFESSOS: Puxa-saco, militar metido a machão, burro metido a sabido e, principalmente, racista.
PANACÉIAS CASEIRAS: Quando dói do umbigo para baixo: Elixir Paregórico. Do umbigo para cima: aspirina.
SUPERTIÇÕES INVENCÍVEIS: Nenhuma, a não ser em véspera de decisão de Copa do Mundo. Nessas ocasiões comparativamente qualquer pai-de-santo é um simples cético.
TENTAÇÕES IRRESISTÍVEIS: Passear na chuva, rir em horas impróprias, dizer ao ouvido de mulher besta que ela não tão boa quanto pensa.
MEDOS ABSURDOS: Qualquer inseto taludinho (de barata pra cima).
ORGULHO SECRETO: Faz ovo estrelado como Pelé faz gol. Aliás, é um bom cozinheiro no setor mais difícil da culinária: o trivial.
Assinado, Sérgio Porto, agosto de 1963."
Morenas, lourinhas, mulatas (poucas) representavam a "biodiversidade" feminina do país, tão exaltada nas marchinhas carnavalescas. Além da fotogenia, as vedetes tinham por obrigação saber cantar, dançar, representar e claro, rebolar. Mas como nem tudo é só arte, algumas dessas meninas, conciliavam duas atividades, o teatro rebolado com suas peças cômicas, as chanchadas no cinem e a vida de dama das camélias (muitas eram perseguidas pela polícia). Mas eu pergunto a vocês: Qual a diferença entre as garotas penduradas e as Vedetes do rebolado? Uma vez que tanto as estrangeiras, quanto as brasileiras foram os ícones da sensualidade (vistas como má influência) no século XX. Nem se preocupem que eu facilmente respondo! As semelhanças são evidentes mas a grande diferença reside no fato de que a figura do mulherão brasileiro sempre existiu, e antes dos cliques e aparições no cinema, sempre foi usado nos circos, casas noturnas (das mais elegantes as mais populares), teatros, e claro nos cabarés. Personagens fruto de uma imaginação, do típico machão brasieiro que dividia a mulher em dois grupos extrememente distintos (mãe dos filhos/mulher da rua), é que afirmo o quanto essas mulheres contribuíram para a cultura nacional. Mara Rúbia, Virgínia Lane, Dercy Gonçalves, Elvira Pagã, Luz del Fuego. Divas que tiveram muito que rebolar para ter seus nomes marcados na história do cinema e do teatro brasileiro.
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Alguns podem até achar que o "dramalhão" musical do Brasil pode ser pra hoje, algo cansativo. Dramalhão? Isso mesmo! É a música dos corações dilacerados, dos homens e principalmente mulheres abandonados ou desiludidos com o amor e a vida. Aquele som (geralmente em samba canção e bolero), que se ouvia constantemente e bem baixinho no rádio de pilhas no quarto das empregadas, ou nas radiólas das donas de casa do subúrbio. Música que marca um período cultural do país, em que a mulher ocupava uma posição de total subserviência e necessidade da figura do marido para ser considerada como uma "mulher decente", da "mulher feliz". Muitas canções e interpretações marcaram essa fase da música brasileira. Mas entre as interpretes, resolvi destacar a importância da Núbia Lafaiette [na foto pintura], que nos anos 50 cantava as dores, e nos anos 70 passou a cantar a mulher não queria mais ser escrava dos casamentos infelizes, revelando a então situação da mulher naquele período, que era de emancipação. Ela, que aos 70 anos resolveu a cantar lá no alto. Não no morro, sim junto com as demais estrelas do céu. Nascida na cidade de Açú no Rio grande do Norte, Idenilde da Costa Araújo, aos 12 anos de idade já fazia do cabo da vassoura um microfone para cantar as músicas de Vicente Celestino e Dalva de Oliveira. A potiguar chegou no Rio de janeiro aos 3 anos de idade e começou sua carreira no fim dos anos 50 com o nome artístico de Nilde Araújo, cantou em programas de calouros, foi crooner da boate Cave no Rio de Janeiro."Devolvi" o seu primeiro sucesso não foi o único, logo depois vieram cair na boca do povo músicas como o bolero "Seria tão Diferente", "Prece à lua", "Solidão", "Preciso chorar", "Primazia", "Ouvi dizer"(todas de Adelino Moreira) e "Mais uma lição"( Nonô Basílio). Depois, já pelos anos 70 e pela gravadora CBS veio uma segunda fase de sucessos, Núbia volta para as paradas com "Casa e Comida" música de Rossini Pinto que foi faixa título de um LP gravado em 1972, a música virou uma espécie de hino nacional das mulheres mal casadas e desprezadas pelo seu maridos infiéis, quase todas sabiam de cor o refrão que dizia; "Não é só casa e comida que faz a mulher feliz". Neste mesmo LP, a música "Aliança com filete de prata" (Gloria Silva) também passou a fazer parte definitivamente do seu repertório, como também as músicas que lançou anos depois a exemplo de "Mata-me" "Depressa"(Rossini Pinto), "Quem eu quero não me quer"(Raul Sampaio/ Benil Santos), "Esta noite eu queria que o mundo acabasse" (Silvio Lima)e as recordistas de pedidos suplicantes nos eufóricos shows de Núbia Lafayette: "Lama"(Aylce Chaves /Paulo Marques) e "Fracasso"(Mário Lago) músicas que ficaram celebres em sua voz.
Apesar dos modismos, Núbia sempre se manteve fiel ao romantismo das mágoas, da traição do desconsolo e da fossa que teve em Adelino Moreira seu grande profeta, mais ainda assim gravou também outro dos grandes especialista da dor de cotovelo como Lupcínio Rodrigues, Herivelto Martins, Raul Sampaio, Jair Amorim, Evaldo Goveia, Othon Russo entre outros.
Um dos seus últimos trabalhos foi gravado em Recife, lançado pela Polydisc na série 20 Supersucessos, aonde foram resgatados os grandes sucessos da cantora desde os mais conhecidos como: Que será, Ave Maria no Morro, Segredo e tudo Acabado, como também músicas que já estavam meio esquecidas a exemplo de "A Bahia te espera". E por falar em Recife, a cidade sempre esteve de portas abertas pra Núbia. No festival da seresta que acontece há alguns anos no Marco Zero da capital pernambucana, sua presença era sempre confirmada. Sentindo a brisa do mar, você assistia apresentações deste ícone da música ultra-romântica, da "dor-de-cotovelo " sem maldade, em sua expressão mais pura e mais sofisticada. Confirmando a cada clássico do seu repertório e que o verdadeiro romantismo jamais será brega.
Pra conhecer ou relembrar...
Disco: Núbia Lafayette 20 Super Sucessos
Ouça na vitrola
Olá meu povo incrementado! Hoje meu coração está batendo com uma batida diferente. É que um dos gatos que viviam no telhado de zinco do meu barraco, o "Val", adoeceu e parou de miar bonito como de costume. Ele já andava um pouco doente, mas nas últimas semanas ficou pior e partiu. Como se não bastasse, fiquei sabendo que além de perder meu felino, não só eu mas com a música brasileira e por que não dizer do resto dos mundos, perdeu no mesmo domingo 17 de junho de 2007, um dos seus maiores músicos e compositores, o Durval Ferreira. Vocês sabem quem foi ele? Bem, sabendo vocês ou não eu vou contar um pouco de mais essa história! Durval, instrumentista (violonista e guitarrista), arranjador, compositor, produtor Musical. Recebeu de sua mãe (bandolinista), as primeiras noções de violão, mas acabou desenvolvendo, em seguida, sua própria maneira de tocar. Mais tarde, aperfeiçoou-se, a partir do contato com vários músicos, como Johnny Alf, Luiz Eça, João Donato, Antonio Carlos Jobim, Herbie Mann e Cannomball Adderley.
Em 1958 fez sua primeira composição ”Sambop” (com Maurício Einhorn), que foi gravada uns dois anos depois pela Claudete Soares no LP “Nova Geração em Ritmo de Samba”. Pelos idos de 59, organizou seu primeiro conjunto e acompanhou a cantora Leny Andrade. Em 1962 integrou o conjunto de Ed Lincoln e, como guitarrista, tocou no Sexteto Bossa Rio, de Sérgio Mendes, durante o Festival de Bossa Nova, no Carnegie Hall (aquele mesmo!). Três anos depois foi violonista do conjunto Tamba Trio em gravações, participando ainda do conjunto Os Gatos, com o qual gravou o LP “Aquele som dos Gatos” (Philips) e, em 1966, ”Os Gatos” (Philips), incluindo sua composição ”E nada mais” (com Lula Freire). Compôs a trilha sonora de ”Estranho Triângulo”, direção de Pedro Camargo, e participou, em 1968, do III Festival Internacional da Canção, com a música ”Rua d'Aurora”, no qual tempos depois foi jurado.
Teve inúmeras composições gravadas por artistas brasileiros e norte-americanos, destacando-se “Chuva” (com Pedro Camargo), “Moça Flôr” (com Lula Freire), “Batida diferente” (com Maurício Einhorn), gravada por Roberto Menescal e seu conjunto, Tamba Trio e nos anos 90 pela Leila Pinheiro, e com várias outras gravações no Brasil e no exterior; ”Tristeza de nós dois” (com Maurício Einhorn e Bebeto), gravada em 1962 pelo conjunto de Sérgio Mendes e também com inúmeras gravações; ”Estamos aí” (com Maurício Einhorn e Regina Werneck), 1963, gravada por Leny Andrade, na Odeon; ”Nuvem”, com o mesmo parceiro, gravada pelo conjunto Os Gatos, de Eumir Deodato, na Philips. Sua composição com Maurício Einhorn e Hélio Mateus, ”Avião”,
foi uma das últimas gravações do cantor Agostinho dos Santos, antes de sua morte em acidente aéreo. Produziu as vinhetas da Rádio Nacional, do Rio de Janeiro, sozinho e em parceria com Orlandivo. Durante toda sua carreira, foi diretor artístico de grandes gravadoras e nelas descobriu e produziu artistas consagrados da música brasileira - Sandra de Sá, Emílio Santiago, Joanna entre outros. Foi o responsável também pela produção do projeto “BOSSA NOVA - História, Som e Imagem” (SPALA/CARAS). Com Aloysio de Oliveira produziu os álbuns: “O SOM BRASILEIRO DE SARAH VAUGHAN” e “MIÚCHA E TOM JOBIM”. Vinha realizando shows solo e com seu grupo “ESTAMOS AÍ”. Mesmo com tantos feitos e com essa importância pra música do país e na música mundial, quantas vezes vocês já ouviram ou tiveram a oportunidade de conhecer esse artista? Quantos brasileiros sequer imaginam que a Bossa Nova não foi o samba de uma nota só de um homem só? Fica registrado mesmo que tardiamente o inestimável legado musical e cultural do Durval Ferreira. O homem dos acordes e batidas diferentes. E agora? Sem gato no telhado, só restam as lembranças dos Gatos na vitrola!
Quem diria que aquele escurinho, filho do Eduardo Marceneiro (o que tocava clarinete e caixa na banda da Guarda Nacional) e da Dona Celestina, iria se tornar um artista tão inspirado? Ninguém! Acho que compor sambas e tocar cavaquinho não seria improvável, sendo filho de um pai músico. Mas isso é normal (ou era), pois no morro, qualquer criança toca um pandeiro, um surdo e um cavaquinho, acompanha o canto de um passarinho sem errar o compasso. Afinal, o que é esperado para quem nasce no alto? Crescer e se destacar pelos estudos? (se infelizmente hoje há dificuldades para isso acontecer, imaginem só naquela época?) Bem, pelo que lembro, ele foi expulso do Colégio Benjamim Constant, do Colégio de padres de Sant’Ana e do Externato Sousa Aguiar. Com isso chegou a concluir apenas o quarto ano primário. Houve outra tentativa que poderia torná-lo mais um "escurinho direitinho", o trabalho (Heitor seguiu o ofício do pai tornando-se marceneiro, carpinteiro e um ótimo polidor de madeira. Certa fase da vida chegou também a ser tipógrafo e sapateiro.). Embora trabalhasse desde os 7 anos, aos 13 foi preso por vadiagem, passando dois meses na Colônia Correcional da Ilha Grande (osso duro de roer). Digo a vocês, em sua vida aprendeu mais com sua avó, com o pai e com a malandragem das ruas do que com professores. Relembrando esses fatos, percebo que hoje eu poderia contar uma história de vida totalmente diferente se não houvesse a arte correndo dentro daquelas veias. Já até perdi as contas dos carnavais em que desci o morro cantando: “Um pierrô apaixonado,/que vivia só cantando,/ por causa de uma colombina,/acabou chorando, acabou chorando”. Parceiro de Noel Rosa em "Pierrô Apaixonado" e Sinhô (com quem teve uns atritos autorais), integrou-se perfeitamente a boêmia da Lapa no início do século XX.
Participou ativamente na formação de escolas de samba, tais como, Deixa Falar, De Mim Ninguém se Lembra, Portela e Mangueira, todas em 1928. Em meados de 1931 ingressou no rádio apresentando-se com um coro feminino, conjunto intitulado Heitor e Sua Gente. Com isso, teve muitos dos seus sambas gravados pelas maiores vozes do rádio como Francisco Alves e Mário Reis. Casou-se no mesmo ano com Iliete, teve filhos. Viúvo, casou-se em 1940 com Nativa. Também teve filhos, mas o que não se imaginaria é que ele tinha mais uma carta escondida na manga. Sem abandonar, porém, o samba, começou a pintar, como autodidata, em 1937 (após a morte de Iliete), e tinha como o simples objetivo “enfeitar as paredes”. Enfenitando paredes, ele ganhou destaque ao participar da primeira Bienal Internacional de São Paulo, em 1951, sendo premiado por um júri que incluía o célebre crítico Herbert Read, um dos nomes mais respeitados da historiografia da arte mundial. Participou ainda das Bienais paulistas de 1953 e 1961, além de realizar mostras coletivas em quase todas as capitais sul-americanas, Paris, Moscou, outras cidades européias e até no Senegal. Suas temáticas eram justamente cenas do morro, sambistas, pastoras e outras cenas tipicamente cariocas (brasileiras), exatamente tudo o que nós viviamos e sentiamos. A principal característica pictórica (falei bonito!) de Heitor dos Prazeres era a capacidade de revelar minúcias e detalhes do universo da samba, realidade que ele retratava com extrema facilidade por conhecer muito bem. Três particularidades logo se destacam nos mais variados trabalhos do Heitor: a importância que dá à fig
ura humana, os rostos colocados de perfil, como ocorre na arte egípcia, e a forte sugestão de movimento. Quanto a esse terceiro fator, vale salientar que homens e mulheres são geralmente retratados quase na ponta dos pés, como se estivessem sambando ou caminhando rapidamente. Esse fator gera imagens de grande dinamismo, em que aparecem geralmente instrumentos musicais ou pessoas com corpos contorcidos em movimentos muitas vezes sensuais. Arte de Heitor dos Prazeres, como diriam os franceses, é a típica arte "ingênua" dos pintores primitivistas. Uma arte em que atmosfera é de júblilo, não trata de preconceitos sociais ou raciais, também evitando trazer à tona fatos da realidade que indicassem qualquer sinal de tristeza. Com suas pinturas, Heitor dos Prazeres ingênuamente conferiu um novo status ao povo preto do morro, que só assim pôde ser apresentado de uma forma repleta de beleza. E como era bom ver a elite, encantada com a arte daquele escuro que não era lá muito direitinho. Com o passar do tempo essa arte se valorizou. Hoje aqueles quadros são ícones da Arte Naïf no Brasil. Pinturas que revelam uma sucessão de movimentos harmônicos como numa música. Quadros pintados como se fossem uma das composições dele, que é um grande músico e tem seu nome gravado no cancioneiro popular, que também tem um papel muito importante na consolidação da ingênua arte primitivista nacional, antecipando os tempos da negritude. 

Você acha que lavar roupa na tina, passar calor por causa da fumaça do ferro de engomar, ficar por horas fazendo pose para foto de família registrada por um retratista, ou ter aquele gigantesco almoço entre os parentes são coisas da antiga? E quem sabe então, preparar aquele almoço dominical que reunia todos os parentes em volta da mesa e depois jogar conversa fora com os vizinhos no portão enquanto as crianças brincam livremente na rua, mais tarde ir para o baile e voltar pra casa calmamente as três da manhã sem medo de ser assaltado na esquina de casa. Você acha que isso também é coisa da antiga?
composições falando do amor, trágico ou feliz. Geraldo Pereira, Cartola, Nelson Cavaquinho, Mijinha, são alguns dos responsáveis pelos mais belos sambas de amor. Uns com mais humor, outros profundamente românticos, outros dramáticos, mas todos revelando o âmago dos sentimentos mais simples e verdadeiros como o tão hoje tão desprezado amor.
A busca pelo empoeirado é cult. A cada dia a "moçadinha" absorve mais e mais a cultura retrô. E não é difícil encontar quem garimpe as preciosidades de tempos idos, nunca esquecidos. Como exemplo tomamos os tão abandonados discos de vinil que depois da aparição do cd deixou de ser produzido e só recuperaram seu devido espaço graças ao trabalho dos DJ´s que remasterizaram, trazendo as pistas, muitas músicas que estavam num verdadeiro limbo musical e alguns artistas e bandas que fizeram o favor em lançar seus àlbuns também em Lp mesmo com toda essa febre digital. Um outro elemento que vale a pena ressaltar é a contribuição da arquitetura (decoração de ambientes) nas apostas em tendências de decoração que mesclam móveis antigos aos contemporâneos. Os estilistas que lotam araras com novas-velhas roupas coloridas inspiradas naquelas de 30 , 40 anos atrás, que estavam confinadas à decomposicão nas gavetas dos armários e da nossa memória. Graças a criatividade dos "modistas" brasileiros, em boa parte das metrópoles é muito fácil ver "brotos" usando vestidinhos, sapatos, bolsas, cortes de cabelo completamente inspirados nas modelagens usadas nos anos 60 e 70. E como não lembrar do cinema? Procurem lembrar quantos filmes nos últimos 10 anos remetem às décadas de 60 e 70? "O que é isso companheiro?" e "Cidade de Deus", são alguns deles. Mas é claro, não podemos esquecer os fantásticos filmes da Vera Cruz e da Atlântida; e os filmes do Cinema Novo, que hoje podem ser vistos em salas de projeção em fundações e em tv´s educativas. E quantos jovens de até 28 anos você tem visto dirigindo "carangos" por aí? Os queridos Fuscas, Chevetes, Opalas... Até mesmo as Vespas! Eu já vi muitos. Além disso, boa parte das bandas que tem surgido re
forçam toda essa estética. O exemplo está no que acontece na nova cena de bandas do Recife e Olinda, ou mesmo a renovação do Choro e do Samba no Rio de Janeiro (a boêmia noite da Lapa). Nossa!! Eu ia esquecer de outro elemento que hoje é indispensável. A internet (a tão badalada internet). Ela, que viabiliza boa parte desse contato, apresentando muitos elementos desse mundo e colocando-os na palma das nossas mãos.Toda essa vontade em conhecer e viver nesse mundo retrô, para mim tem uma explicação muito simples, que está fundamentada em algumas questões que faço questão de expor aqui. A primeira delas é que está cada vez mais difícil ser ou parecer singular numa sociedade em que todo mundo é um pouco parecido com todo mundo. Por isso, investir num estilo diferenciado dos demais. Usar hoje uma roupa com mais de duas décadas ou inspirada nelas, compar um disco raro, ter uma pintura do Heitor dos Prazeres e uma mesa em madeira maciça na sua sala é um privilégio que nem todos tem (o que é uma pena). Pois é, essa é a meu ver uma forma de reencontrar aquilo que fez parte de um período cheio de inicência e uma pureza difícilmente vistos atualmente. Se você acredita que todo esse universo não pode ser descartado, que não é brega, cafona ou demodê, sinta-se em casa!