quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Dia do Diamante Negro

Você pensa que Diamante Negro é apenas um tipo de chocolate? Acha que é uma pedra preciosa, que enfeita brincos e anéis de gente granfina? Devo informar que não é apenas isso! Diamante Negro no Brasil, pode ser também o sinônimo de Leônidas da Silva. Só espero que saibam quem foi o Leônidas! Se não souberem (o que é uma lástima), aqui estou eu pra contar um pouco do que ele representou para a história não só do futebol, como também do negro no país. Num tempo muito distante, em futebol não despertava interesses monetários. Num tempo em que pra jogar bola era necessário saber jogar e amar o desporto, havia uma verdadeira divisão social da bola. Nos clubes, a alva classe média e rica das cidades brasileiras, nos campinhos de terra batida a pigmentada e desfavorecida população das favelas (morros) e bairros do subúrbio. Mas é no campinho, com bola de meia e pé no chão que surgiram os maiores futebolistas desta nação. As histórias são comuns na malemolência, pobreza, na convivência com os preconceitos dos outros. E é nesse contexto que nasce na cidade do Rio de Janeiro, ao dia 06/09/1913, Leônidas da Silva. Era filho de "Dona" Maria e do "Sr." Manoel Nunes da Silva e na infância torceu para o Fluminense, encantado que foi com o grande time tricolor tricampeão carioca em 1917/1918/1919. Como toda criança, quer seja pobre, quer seja rica, sonhava em ser jogador de futebol e assim foi. Iniciou sua carreira no São Cristóvão F.C. Jogou no Flamengo de 1936 a 1942, tendo conquistado o Torneio Aberto de 1936 e o campeonato carioca de 1939. No Flamengo virou ídolo, e também combateu o preconceito, sendo um dos primeiros jogadores negros a jogar pelo então elitista Clube de Regatas do Flamengo. Passou por vários clubes do Rio de Janeiro, no São Paulo, no Penãrol do Uruguai, destaque da Seleção Brasileira que fez uma péssima atuação na Copa do Mundo de 1938. Com isso foi um dos principais jogadores brasileiros de futebol e, talvez, a primeira grande estrela do futebol na era profissional no Brasil. Pois é., o mestre Leônidas deixou um grande legado ao futebol e as gerações posteriores a dele, tanto na qualidade técnica quanto na luta contra os preconceitos (basta lembrar do polêmico Paulo Cesar Cajú nos anos 70). Até hoje muitos "jogadores de futebol" se orgulham quando raramente conseguem marcar um "gol de bicicleta", mas às vezes me pergunto se eles sabem quem foi o inventor da plástica jogada. No país das pessoas da cabeça de papelão, da memória de vento, os mais jovens não sabem que o "Diamante Negro da Silva" fazia desta a mais encantadora e aguardada jogada, mais até que o próprio gol, eu diria. A primeira bicicleta surgiu no jogo do "Bonsucesso" versus o extinto"Carioca", nos idos 24 de abril de 1932, já a segunda foi pelo meu querido Flamengo num jogo contra o Independiente da Argentina. Posteriormente no SãoPaulo e na Seleção Brasileira o público teve a oportunidade de ver ao vivo a imagem que foi imortalizada por fotografia que até hoje revela a beleza de uma bicicleta se convertendo em gol. Mas vocês devem se perguntar, por que o Leônidas ganhou o apelido de Diamante Negro, e o que é que o chocolate tem com isso! Simples! O apelido de "Diamante Negro" foi dado pelo jornalista francês Raymond Thourmagem, da revista Paris Match, quando maravilhado pela habilidade do crioulo. Já o apelido de "Homem-Borracha", também dado pelo mesmo jornalista, foi devido a sua elasticidade. Diante do sucesso do Leônidas, anos mais tarde a empresa Lacta aproveitando-se do prestigio do atleta "homenageou-o", criando o chocolate "Diamante negro" que é vendido até hoje. A empresa só pagou dois contos de réis à época, sendo que Leônidas nunca mais cobrou nada pelo uso da marca. Depois de abandonar os gramados, em 1951, ainda continuou ligado ao esporte. Foi dirigente do São Paulo, logo depois virou comentarista esportivo, sendo considerado por muito um comentarista direto, duro e polêmico. Chegou a ganhar sete prêmios "Roquette Pinto". Sua carreira de radialista teve que ser interrompida em 1974 devido a doença do Mal de Alzheimer. Durante trinta anos ele viveu em uma casa para tratamento de idosos em São Paulo até morrer, em 24 de janeiro de 2004, por causa de complicações relacionadas à doença. A sua esposa e fiel companheira, Albertina Santos, foi quem cuidou dele até seus últimos dias. Todos os dias ela visitava o marido e passava o tempo com ele, cuidando do eterno craque. O tratamento foi mantido pelo São Paulo, último time que Leônidas defendeu como jogador. Foi enterrado no Cemitério da Paz, em São Paulo.
Graças aos esforços de alguns o legado do "Diamante Negro" jamais será esquecido, mesmo o Brasil sendo um país que não dá muita atenção aos ídolos do passado. Foi lançada uma biografia do atleta e sua vida, havia a intenção de transformá-la em filme, mas até agora não se ouviu nenhum "claquete" indicando o início das filmagens. Nos noticiários, uma nota discreta, um comentário pequeno... Mas por aqui fica a homenagem e a esperança de que os amantes do futebol não esqueçam desse que foi um dos maiores jogadores de todos os tempos.

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