segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Olhos Felizes!

E quem disse que eu aguento? Todo ano é a mesma coisa desde que resolveram por mim que já era tempo de ser adulta! Chega setembro, entra o mês de outubro e sempre a mesma sensação agradável. Esse é o tempo de brincadeiras além da conta, o tempo de ouvir gargalhadas e ver olhos felizes. Felizes aqueles mesmos olhos que geralmente são tristes ao ter que descer o morro (favela) direto pro sinal de trânsito pra vender doce ou brincar de artista de circo. Engraxar sapatos, carregar compras de gente fina, ajudar a mãe a carregar a trouxa de roupas pra casa da patroa. Ter que cuidar dos irmãos menores como se fora brincar de casinha, deixar de fazer a comidinha de brincadeira pra fazer o feijão com arroz do dia- a - dia (isso quando tem feijão e arroz pra comer). Pescar sururú, ajudar os pais na mina de carvão ou na roça. Aprender desde cedo a cuidar de si como se fosse gente grande. Bola de meia, bola de gude, pipa, boneca, pular amarelinha, quebrar vidraça já nem fazem parte de sua rotina. Ir à escola, já não cabe mais pois o dia passa tão rápido que logo desgastados pelo sol, pelo suor, pela fome, perigo, cansados do não cheio de desconfiança que sai de dentro dos carros blindados, ou mesmo das armas que já não disparam mais tiros de festim. Porém mesmo diante de todos esses fatos é fácil perceber o encanto que toma os pequenos quando se aproxima o dia deles. E não importa se são ricos ou pobres, o vinte e sete de setembro talvez seja um dos poucos dias em que estas crianças sentem o real sabor de assim ser. Este que pra mim é o verdadeiro dia das crianças não traz consigo o apelo de propaganda, hoje indissociável do dia 12. Confesso não saber o motivo pelo qual o dia 12 de outubro foi eleito no Brasil como o Dia das Crianças, mas acredito que este não é deveria ser o verdadeiro dia. Faço esta afirmação por que não há a mesma magia, o mesmo encanto que existe no dia dos santos Cosme e Damião (Cultuados pela igreja católica e pelos cultos Afro-Brasileiros). O que existe é uma corrida desenfreada às lojas em busca daquela boneca, daquela roupa ou daquele vídeo game super - hiper - ultra - moderno que apareceu na televisão. Já sabemos, tudo isso alimenta na criança que vive em uma família mais abastada o bichinho do consumismo, e na que tem menos o desejo do "intangível". Não é preciso fazer muitos esforços para perceber as diferenças entre o dia 12 e o dia das crianças. Nele ocorre a distribuição de doces e às vezes brinquedos a qualquer criança sem distinção, ao passo que no outro dia ocorre a loucura de pais e mães em busca da "compra da felicidade do seu filho". Presentes na mão da criança é legal ( eu mesma adorava ganhar presentes), mas não há alegria e energia maior que a festa na rua quando se descobre que na casa da vizinha tem festa de Cosme e Damião, que estão distribuindo bolo, bala, bola, coscuz e manjar. A vida enlouquecida nos grandes centros urbanos e as dificuldades específicas de muitas cidades do interior e bairros do subúrbio pode ter reduzido muito o hábito saudável das festas nas casas em comemoração ao dia dos queridos Santos Cosme e Damião. Mas faço a provocação! Façam um teste no próximo ano ou mesmo em qualquer dia entre setembro ou outubro... Comprem muitos doces, uns saquinhos em tons de vermelho e verde, morando você onde morar, abra seu coração e sua casa pra alegria que vai chegar! Por favor, me contem como foi!

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